Mais de 50% das infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) cirúrgicas são superficiais, o que significa que raramente necessitam de tratamento hospitalar. Consequentemente, essas infecções muitas vezes ficam fora do radar das vigilâncias hospitalares, como avaliação de culturas, reinternações ou preenchimento de formulários.
Por isso, a busca fonada se torna um forte aliado na vigilância dessas IRAS. Através de uma ligação telefônica ou mensagem de texto, é possível avaliar critérios para suspeita e confirmação de uma IRAS de sítio cirúrgico.
Benefícios e Riscos
Independentemente do indicador utilizado para avaliar suas IRAS cirúrgicas — seja a Taxa de ISC em Cesariana, Taxa de ISC em Cirurgia Limpa, Taxa de ISC por especialidade ou por cirurgião — um fato é certo: sem uma vigilância adequada, seu indicador será subdimensionado, proporcionando uma falsa sensação de segurança e qualidade. isso também inviabiliza análises críticas e a elaboração de planos de ação para promover ciclos de melhoria.
Mesmo para quem já realiza a vigilância, é crucial prestar atenção em dois aspectos: a quantidade de cirurgias monitoradas em relação ao total (amostragem) e a taxa de sucesso do contato. Com esses dois indicadores, é possível monitorar a eficiência da sua estratégia de vigilância.
Métodos Disponíveis
Diversas estratégias podem ser usadas para fazer a vigilância de IRAS cirúrgica:
- Notificação pela equipe do ambulatório ou consultório médico;
- Investigação em prontuário eletrônico das reinternações cirúrgicas;
- Avaliação das culturas positivas do hospital;
- Rastreio com o cirurgião;
- Orientar paciente e disponibilizar meios de notificação (e-mail, site, formulário on-line…);
- Busca fonada por telefone ou WhatsApp
Portanto, o objetivo deste artigo é aprofundar-se na busca fonada e explorar como aproveitar as tecnologias modernas dos “novos” telefones para realizar uma vigilância pós-alta mais eficiente. Além disso, mostraremos como o Vigispec automatizou todo esse processo.
Busca Fonada

O método mais comum de busca fonada sempre foi a ligação telefônica. No entanto, atualmente, as pessoas utilizam cada vez menos o contato telefônico e preferem mensagens assíncronas, como WhatsApp, e-mail e redes sociais. Por que não aproveitar essa tendência para aumentar sua taxa de sucesso na busca fonada pelo WhatsApp?
Para realizar o processo de busca fonada de forma adequada pelo WhatsApp e garantir a obtenção de indicadores mínimos, é necessário seguir quatro processos estruturados:
Acesso a Lista de Cirurgias
Exportar as cirurgias do seu prontuário eletrônico em qualquer formato que no final vire um excel. E que, no mínimo, tenha as seguintes colunas:
- Data da cirurgia
- Nome do paciente
- Procedimento cirúrgico realizado
- Cirurgião/Especialidade
- Telefone do paciente
- Potencial de contaminação se possível
Classificar os Procedimentos
- Descartar os procedimentos que não se enquadram no conceito de cirurgia
- Marcar quais grupos de cirurgia fará busca fonada (limpas, cesarianas, artroplastias…)
- Você pode aproveitar para revisar ou acrescentar o potencial de contaminação das cirurgias para poder selecionar as limpas para a busca ou somente para ter o indicador de ISC adequado posteriormente.
Definição de Tempo para Busca
Agora que você já tem a lista tratada com as cirurgias, é necessário definir um tempo de início para a busca fonada. O ideal é realizar pelo menos um contato no prazo final da busca, por exemplo, 30 dias. Dessa forma, garante que não haja uma janela após o contato em que o paciente possa desenvolver sintomas de infecção de sítio cirúrgico.
Nas cirurgias de notificação obrigatória nacional com implantes, detalhada em nosso artigo de vigilância de IRAS, é necessário fazer contato até 90 dias. Portanto, recomendamos o famoso esquema de 30, 60 e 90 dias para garantir uma vigilância eficaz destes casos.
Contato com o Paciente
Para enviar uma mensagem para um número desconhecido, você precisará cadastrar manualmente o paciente no seu celular e, em seguida, copiar um texto pronto para enviar.
Desenvolva um texto objetivo que identifique quem está falando e o motivo do contato. Em seguida, faça perguntas de SIM ou NÃO que o paciente possa responder facilmente, permitindo a triagem de uma suspeita de Infecção de Sítio Cirúrgico a ser investigada.
Exemplo: Olá,
Aqui é do Serviço de Controle de Infecção do Hospital Z. Vi aqui que você realizou um Procedimento Cirúrgico em nosso hospital e gostaríamos de saber se você apresentou algum dos seguintes sintomas:
- Secreção de pus ou líquido no local
- Inchaço, calor e vermelhidão na ferida operatória
- Abertura dos pontos ou da cicatriz – Febre, temperatura maior que 38 graus
- Foi submetido a novo procedimento cirúrgico, por complicações da cirurgia anterior.
- Se apresentou algum dos sintomas acima, foi indicado pelo médico uso de antibióticos?

Retorno do Paciente e Dados
Após enviar o WhatsApp com o texto pré-definido, você deve aguardar a resposta do paciente. Pois, se o paciente responder NÃO (está tudo bem!) e for uma busca de 30 dias, você pode finalizar a vigilância e adicionar a informação à sua planilha de controle. Caso haja indicação de vigilância por 90 dias, reenvie a mensagem aos 60 e 90 dias.
Se o paciente responder SIM (teve algum problema!), você deve realizar uma investigação mais aprofundada para avaliar se os critérios de Infecção de Sítio Cirúrgico (ISC) são atendidos.
Indicadores
Depois de todo esse trabalho, caso tenha mantido um bom controle da planilha poderá utilizá-la para gerar os indicadores necessários. O indicador mais importante, que inclusive precisa notificar para ANVISA, é a taxa de sucesso no contato. ele consiste em:

Taxa de Sucesso: Número de contatos realizados com sucesso x 100 / Número de contatos realizados
Demonstra a eficácia do processo de vigilância. Portanto, taxas menores que 50% podem impactar na qualidade do indicador de IRAS enquanto taxas maiores que 70% demonstram sucesso no processo de busca fonada. Outro indicador é a taxa de cirurgias de busca fonada:
Taxa de Vigilância: Número de cirurgias com vigilância realizada x 100 / Número de cirurgias realizadas no hospital
As vezes mesmo com uma taxa de sucesso alta pode estar fazendo uma amostragem muito pequena de cirurgias e isso também impactar no indicador de IRAS
Eficiência x Eficácia
Os dois indicadores acima falam de eficácia, quer dizer, quantas cirurgias eu consigo contato. Mas sabemos que fazer todo esse processo toma muito tempo e energia na equipe da SCIH. Dessa forma, mesmo que eu tenha uma busca eficaz, muitas cirurgias com taxa de contato alto, quanto tempo e energia tenho gasto nisso, isso é eficiência. O ideal é que equilibre eficácia com eficiência. E dessa forma, fazer mais com menos tempo.
Busca Fonada Automatizada
Nós no Vigispec, automatizamos todo esse processo. Desde a integração das cirurgias e dados do paciente do prontuário eletrônico até o envio automático da mensagem do WhatsApp para o paciente, que através de um bot responde e reintegra no sistema garantindo todos indicadores. Portanto, o único trabalho operacional da equipe é confirmar as respostas suspeitas
Se quiser saber mais sobre como fizemos isso e como podemos implantar em seu hospital agende uma conversa ou fale com a gente no WhatsApp
Referência com link atualizado
- Nota Técnica 01/2025: Vigilância das IRAS: Vigilância das IRAS
NOTA TÉCNICA GVIMS/GGTES/DIRE3/ANVISA nº 01 / 2025
Orientações para vigilância das Infecções Relacionadas à assistência à Saúde (IRAS) e resistência aos antimicrobiana em serviços de saúde – ano: 2025 - Nota Técnica 03/2025: Critérios IRAS Notificação Obrigatória
NOTA TÉCNICA GVIMS/GGTES/DIRE3/ANVISA Nº 03 / 2025
Critérios Diagnósticos das infecções relacionadas à assistência à saúde de notificação nacional obrigatória – ano: 2025.